sábado, 4 de dezembro de 2010

Master brasileiro, uma história viva das lendas do surf verde e amarelo


Por Fabrício Fernandes

Andava entre os atletas admirado com tudo que estava vendo, quando subitamente encontrei o baiano Guiga Mattos (grande nome dos anos 80) que me perguntou como eu conseguiria colocar a magnititude daquele evento no papel. Na hora realmente não soube responder.

Há 23 anos, na mesma praia, o empresário Rafael Levy trouxe para a Bahia o histórico Fico Surf Festival, campeonato que encheu os olhos dos baianos por três anos consecutivos, e eu, um garoto, de 16, assistia a tudo sem piscar.

Hoje duas décadas depois, os mesmos surfistas daquela época, voltaram a ser as estrelas do show, graças a iniciativa da Confederação Brasileira de Surf, que nas palavras do seu presidente, definiu muito bem o clima do evento, um campeonato para amigos.

O que podíamos ver era um clima de descontração, pessoas tirando sarro umas das outras e sorrisos por toda a parte.

Eu, entre todos aqueles nomes que fizeram do surf o esporte que é hoje, me sentia como o garoto de 23 anos atrás, deslumbrado e sem querer perder um momento sequer.

Os bastidores, as conversas, as velhas rivalidades que vinham a tona e principalmente, o surf apresentado por eles que pareciam garotos dentro e fora d’água. Muitos provavam que manter a forma física é apenas questão de força de vontade. Caras como Mandinho, Ribas, Noronha e Tatuí estavam enxutos. E o que dizer de Ricardo Bocão aos 56 e físico de garoto?

Nas ondas o show foi garantido. Só para se ter uma idéia. Ali tinham dois títulos mundiais WQS, Mandinho e Ribas. Em relação a títulos brasileiros era uma enxurrada. Jojó de Olivença (2), Joca Júnior (1), Tita Tavares (4), Ricardo Toledo (2) e Victor Ribas (1).

Além de nomes como meu amigo Sérgio Noronha, que na volta do circuito mundial ao Brasil, no Hang Loose de 86, varou toda a triagem (na época uma verdadeira maratona de baterias) chegando em quinto no evento principal; Ricardo Tatuí, que como alternate do WCT, ganhou uma etapa na França, inclusive derrotando Slater; além de Christiano Spirro; o lendário Carlos Moraes e o big rider baiano Maurício Abubakir.

O surf era mesmo bonito de se ver. Mandinho sempre fluido, Spirro pegava uma onda atrás da outra, Jojó com uma linha impecável. Tatuí surfava muito solto, fazendo sequências de manobras, Sérgio Noronha, que veio graças a pilha que coloquei, batia reto e mandava a mesma rasgada de frontside com força que fez a sua fama nos anos oitenta.

Carlinha Circenes, biologa e surfista baiana teve a oportunidade de correr uma bateria com “Shorty”, a famosa cearense Tita Tavares que mostrou que ainda tem surf de WT. Carlinha ainda contribuiu com importantes 900 pontos no somatório em favor da equipe baiana. Só fiquei sentido porque não tiveram mais meninas.

As finais foram realmente um show a parte na Kahuna David Husadel com um surf redondo abocanhou o ouro. Cardoso Júnior ficou em segundo, Beto Cavallero, ex-top da Abrasp e ex-juiz da ASP, ficou em terceiro e Sérgio Pena em quarto.
Na Grand Master, Ricardo Toledo, Júnior Maciel, Ricardo Tatuí e Sérgio Noronha, reviveram velhas rivalidades dos anos 80, finalizando em primeiro, segundo, terceiro e quarto respectivamente.

Na Grand Kahuna tinha Ricardo Bocão, Jorge Bittencourt, Roberto Andrade e Maurício Abubakir.

Bocão dispensa qualquer tipo de comentários, pioneiro no Hawaii, desbravador de ondas em todo o litoral brasileiro, Peru e no arquipélago dos Hui, e visionário do esporte brasileiro ficou em primeiro.

Um fato curioso foi ver Victor Ribas passando instruções a Bocão antes dele cair na água. Até brinquei com Bocão que os papeis haviam se invertido.

Em segundo ficou o Jorge Bittencourt, em terceiro Renato Andrade e em quarto o rei do cascudo Havaizinho do farol de Itapuã, Maurício Abubakir.

A cereja no topo do bolo como sempre ficou para a final e a bateria Master foi vista por um bom público, que reuniu quatro atletas que participaram por muitos anos da elite mundial, o antigo WCT. Juntos contabilizavam dois títulos mundiais e três brasileiros. Os finalistas já haviam derrotados nomes como Kelly Slater, Andy Irons, Shane Dorian e Taj Burrow. O mínimo que se pode esperar dessa bateria era dela ser espetacular, e foi!

Jojó, com sua linha polida fazia um bonito base lip. Spirro usava sua batida de back a forte rasgada de front como poderosas armas. Mandinho, mostrou que não perdeu a sua tática de competição e sempre frio escolhia as ondas certas manobrando no crítico e com muita velocidade. A forma de competir de Mandinho me lembra muito o bicampeão mundial Damien Hardman, o iceman!

Vitinho mostrou na água porque é chamado de pequeno gigante e com um surf muito forte, honra o status de ter sido o melhor brasileiro de todos os tempos no WT. Terceiro colocado!

Deu Vitinho em primeiro, Mandinho em segundo, Spirro em terceiro e Jojó em quarto. E lembrando a velha rivalidade, Mandinho deve ter ficado muito feliz pensando, “pelo menos fiquei na frente de Spirro”...rs

Antes das finais ainda tiveram fotos históricas com todos os atletas e organizadores e eu tive a honra de fazer comentários lado a lado na cabine com Ricardo Bocão.

Quer saber? Eu achava que o evento mais alucinante que já tinha participado era o Barradoor (Kaiser Summer Surf) no Rio de Janeiro com o tubaço de Kelly, mas depois desse nem sei mais.

Só tenho a agradecer a CBS, por essa, como disse Beto Cavallero, sessão naftalina...rsss

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