Raphael Levy, o Fico* em 26/1/2010
Neste fim de semana, em um agradável bate-papo com amigos, os assuntos mais polêmicos foram dois projetos envolvendo o surf. O primeiro foi uma espécie de reality show que a TV Globo gravou chamado "Nas Ondas de Noronha", no qual misturou artistas de seu elenco, surfistas profissionais e quatro praticantes até então desconhecidos. Quem não gostou da iniciativa argumentava que a produção só se aproveitava do surf para tentar melhorar a audiência que baixa nas férias e que o estilo de vida de quem ama o surf passa longe do que foi mostrado.
A segunda discussão foi sobre as aulas de surf que a prefeitura de São Paulo incluiu no seu projeto Super-Férias que leva atividades para as crianças dos bairros da cidade. Os que elogiavam diziam ser importante apresentar o esporte para as gerações que farão o futuro, especialmente para quem, muitas vezes, nunca viu praia. Os críticos rebatiam que um contato tão rápido apenas provocava a ilusão de que virar uma "fera das ondas" é coisa fácil.
Na hora em que fui chamado a opinar, dei razão a todos. Verdade. Não sou de ficar "em cima do muro", quem me conhece sabe disso. Realmente, existem horas em que se pode ver corretamente as coisas de duas maneiras e nenhuma está errada. No caso da Globo, por exemplo. Evidentemente a emissora não iria gastar a grana que gastou para produzir seu reality show (ou o que seja), se não fosse para ganhar pontos no ibope e atrair a atenção dos apaixonados pelo surf.
Como nós precisamos divulgar o esporte cada vez mais, foi uma oportunidade de quem não é ligado nos mistérios e belezas das ondas admirar o surf. Quem não gostou está certo quando acha que melhor seria a emissora (e as concorrentes) destacar competições que acontecem pelo Brasil todo. Além disso, "mocinhos" de novela não se parecem com o mundo das pranchas Mas, no fim foi válido.
Já as aulas de surf que estão sendo dadas nos centros municipais de esporte devem ser encaradas como uma diversificação de atividades para a meninada. Eles terão mais uma experiência a contar na volta às aulas. A ilusão de ser um surfista dificilmente apagará o sonho de ser estrela do futebol ou coisa assim, mais comuns na periferia. O que é necessário e repetir a prática para ver se alguém se revela. Como levar uma eventual promessa ao mar, depois? Aí é um problema sério que precisa de mais espaço para se conversar. Quem sabe as ondas artificiais não cheguem logo? Enfim vale tudo para divulgar o surf, menos mascarar a realidade ou mentir. O primeiro pecado, os projetos debatidos correm o risco de cometer, o segundo não (em minha opinião).
*Fico é empresário, apaixonado por surf desde a infância, e tem se destacado na divulgação desse esporte do qual foi pioneiro da profissionalização no Brasil.
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